DIÁLOGOS E RUÍDOS ENTRE FILMES PARA VER AGORA
A CineBH apresenta uma novidade no segmento latino-americano. A Mostra Conexões substituiu a Mostra Continente e, junto com a mudança de nome, temos uma mudança de operação curatorial. Se a Continente estava sem uma identidade própria, reunindo filmes de interesse para a equipe de programação, sem necessariamente terem algo a ver uns com os outros, a Conexões exige um trabalho curatorial mais rigoroso, de composição, de rimas e de afinidades quaisquer entre os filmes. Nesse primeiro ano, optamos por compor duplas de filmes em diálogo, a partir de algum aspecto em comum, às vezes mais explícitos, às vezes menos, que são exibidos sucessivamente em uma mesma sala (com exceção de um dos cinco programas). As duplas de sessões foram intituladas, de modo a enfatizar as razões dos filmes estarem programados em dípticos.
No conjunto de oito longas-metragens, há muitas diferenças entre os programas diários compostos por duas sessões. Temos desde obras centradas em uma fisicalidade dos corpos e de ambientes aquáticos (Cais e Cuento de Pescadores), com ampla dose de mistério nessa relação, até documentários que mobilizam arquivos audiovisuais, fatos históricos e perspectivas de culturas invisibilizadas, reprimidas ou recalcadas pela sociedade e pelo Estado, levando ao resgate das memórias dos povos originários (Memoria Implacable) e de personalidades do mundo queer (Álbum de Família), de resistências de territórios que não alcançaram a condição de Estado (Notas sobre um Desterro e Todo Parecía Imposible), de sufocamento de liberdades individuais (Crónica del Absurdo) e de desaparecimentos violentos (Todo Documento de Civilizatión).
Parte do trabalho de uma equipe de programação de um festival, ao menos na CineBH, não está somente em selecionar e rejeitar filmes, colocar para dentro ou deixar de fora, decretar o que será visível e o que ficará sem visibilidade. Tão importante quanto isso, até por determinar esse trabalho de dar a ver, é organizar as diferenças e pontos de contato, sublinhar e constelar as linhas de força e as recorrências, reconhecer algumas formas e conteúdos antenados com a realidade de nossos dias e que fazem parte de uma contemporaneidade que é em si histórica e contextualizada. Como desafio está a necessidade de orquestrar tudo isso sem o deslumbramento com ondas e modas que asfixiam e empobrecem processos de criação e telas de vários tamanhos e naturezas.
Cleber Eduardo
Coordenador curatorial
Ester Marçal Fér
Leonardo Amaral
Mariana Queen Nwabasili
Curadores
Gustavo Maan
Curador assistente