ANNA MUYLAERT, DIRETORA E ROTEIRISTA

18ª CINEBH – Anna Muylaert – Homenageada da Mostra – Foto: Leo Lara/Universo Produção

Anna Muylaert nasceu em 1964 em São Paulo e formou-se em cinema na USP. Destaca-se no cenário audiovisual pela abordagem sensível e crítica a temas sociais e familiares, em filmes de forte pegada popular que foram fazendo sucesso crescente até o estouro internacional de “Que Horas Ela Volta?” em 2015. Sua obra é marcada pela visão humanista e o olhar atento a questões de gênero, desigualdade social e dinâmicas familiares. Mistura comédia e drama com desenvoltura e conseguiu, ao longo de toda a trajetória até aqui, encontrar os pontos ideais de contato entre o autoral e o comercial, em filmes de pegada muito singular e arriscada nos temas e linguagem, escritos e realizados com a espontaneidade de quem sabe se comunicar muito rapidamente com os espectadores. 

Alguns dos elementos característicos do cinema de Anna Muylaert são a construção de personagens bidimensionais e cheios de contradições fascinantes, a abordagem de temas sociais com profundidade e empatia e o humor ácido e sofisticado. Seus filmes frequentemente exploram a intimidade das relações familiares e das tensões sociais brasileiras e revelam conflitos velados que fazem parte da formação do país, desde a opressão de homens contra mulheres a situações de empregadores e empregados, comerciantes e clientes, pais, mães e filhos, identidades sexuais e assim adiante. Muylaert tem habilidade especial para criar narrativas que são, ao mesmo tempo, profundamente pessoais e universalmente ressonantes, permitindo que o público se conecte emocionalmente até o fim de cada filme, inclusive pela sua esperteza em sempre oferecer novos rumos aos filmes, surpreendendo a quem assiste.

Estreou na direção de longas com “Durval Discos” (2002) e seguiu em “É Proibido Fumar” (2009), ambos premiados em vários festivais e com ótima repercussão crítica. Em “Que Horas Ela Volta?” (2015), que aborda as questões de classe e desigualdade social através da história de uma empregada doméstica e sua filha residindo na casa dos patrões ricos, ganhou aclamação mundial, pautou debates culturais no Brasil e furou a bolha da cinefilia, atingindo tipos variados de público que discutiam o filme arduamente, algo só repetido depois por “Bacurau” (2019). Outros filmes de destaque, ainda que com trajetórias mais modestas, são “Chamada a Cobrar” (2012), originalmente feito para a televisão, e o documentário “Alvorada” (2022), codirigido por Lô Politi e que trata do processo de impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Seu filme mais recente, “O Clube das Mulheres de Negócios”, terá sua primeira exibição pública no Festival de Gramado e será o filme de abertura da 18a CineBH.

Anna Muylaert tem grande importância no cinema brasileiro contemporâneo não apenas na qualidade artística de suas obras, das quais ela mantém total controle inclusive por também ser roteirista, mas ainda na capacidade de provocar reflexão e discussão sobre temas relevantes. Ou seja, ela apresenta um cinema de grande qualidade formal ao mesmo tempo em que trata de assuntos diversos, o que é uma mescla difícil especialmente num cinema brasileiro em constante busca de identidade.

Marcelo Miranda
Curador